Pesquisar este blog

16 de setembro de 2013

2001: Uma odisseia no Espaço

Um filme que é muito mais que um filme.
(E não simplesmente porque é baseado num livro do gênio britânico Arthur C Clarke - co-autor do roteiro - ou porque derivou uma série em quadrinhos por Jack "The King" Kirby)

2001 é uma aula de cinema, como quase todo filme de Stanley Kubrick, e não é preciso procurar muito para ver o quanto o filme citado sempre que alguém precisa de um computador rebelde (ou ganhando consciência).

Uma obra de arte que trabalha como uma ópera em seu primeiro ato (com cenas de um belo balé espacial), e que desenvolvem toda uma noção sobre perspectiva e dimensionamento (veja o quarto branco do final, com uma fascinante simetria de aspectos, ou mesmo a estrutura primorosa da nave espacial que parte para Júpiter - com as cenas do loop, ou em que HAL lê os lábios dos tripulantes).

E não é exagero, tudo está lá, em pequenas doses e detalhes.
(Inclusive a inspiração para o tablet - sim, num filme de 1968, nós vemos o primeiro tablet!)
Como a pista mais clara impossível de que HAL estava funcionando com defeito: Ao dizer erroneamente os movimentos das peças de xadrez (HAL fala de suas próprias peças pela perspectiva de Frank).
Isso facilmente passa desapercebido de qualquer um, e, para muitos seria considerado um erro (como o IMDB destaca como possível), mas isso é ignorar o autor do filme, o campeão de xadrez - em nível de torneio - e que fez o roteiro com Arthur C Clarke página por página...

Mais que isso, essa é a peça definitiva para minha teoria sobre o final do filme, que faz ainda mais sentido à luz das evidências (que cada detalhe é importante).

Veja, o Monólito representa o avanço evolutivo, e é justamente por isso que o filme inicia na 'aurora da humanidade', sem mostrar um homem ou sequer hominídeo. Kubrick retrata o talvez 'elo perdido', numa mescla de chimpanzé com pouco mais de capacidade motora e desenvolvimento de membros.

E o que é o ato final "Júpiter e além"? A morte de Dave, representando os cinco estágios do luto (através dos 'cinco Daves' - incluindo o último, o bebê/Starchild), mas mais que isso, com algo que fica claro na canção que HAL canta enquanto está sendo 'desligado', a música folk "Daisy Bell".
Dave, não só está morrendo, como está sendo 'incorporado' por HAL - esse, em um ato desesperado vendo seu fim, une sua consciência com a de Dave, em uma 'bicicleta feita para dois', para poder desta forma salvar a ambos.
Isso, inclusive, é o ponto do monólito descoberto na Lua: O próximo passo evolutivo (o Homo Machina).


Entender essa cena final - o quarto branco simétrico - após toda uma longa sucessão de flashes, negativos e cenas que poderiam melhor ser descritas como uma bad trip - é na verdade mais difícil que entender todo o restante do filme.
Até porque todo o material é uma escada, seguindo numa progressão ordenada e lógica (mas, como as cenas fazem questão de ilustrar claramente, com uma referência cíclica, sempre dando voltas ao início).

Mas... E o monólito?
Ele não é apenas uma metáfora, uma vez que serve de mote para a missão exploratória em Júpiter, logo após ser encontrado na Lua... Não é mesmo?
Bem... Então... Sim e não.
Os computadores HAL (que nunca deram problema antes) administram todos os sistemas de informação da associação espacial científica... Vemos o monólito na Lua seguido por um ruído forte - e nenhum dos personagens ali envolvidos é citado novamente... Lembrando que HAL insiste na importância da expedição, que vale inclusive o sacrifício de toda a tripulação, se necessário fosse...

Qualquer coisa além disso entra nas leis de Clarke (1- Quando um cientista distinto e experiente diz que algo é possível, é quase certeza que tem razão. Quando ele diz que algo é impossível, ele está muito provavelmente errado; 2 -O único caminho para desvendar os limites do possível é aventurar-se um pouco além dele, adentrando o impossível; 3 -Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia).

Só reforçando, já para concluir o argumento final, Kubrick sempre foi muito possessivo com suas adaptações, e nunca se importou muito em modificar o material fonte (vide "O Iluminado" - que estará numa coluna dessas nas próximas semanas), então ignore qualquer continuação como "2010 - O Ano que fizemos contato", ou coisa que o valha.
Pro filme de Kubrick, o contexto é esse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário