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17 de setembro de 2015

{Resenhas de quinta} E eu não preciso de sua Guerra Civil (solo de guitarra)

Nota: 3,5/10
Guerra Civil (Edição encadernada)

(Roteiros: Mark Millar, Arte: Steve McNiven, Panini Comics, 208 páginas. [Re]Publicado em Setembro de 2015; Originalmente publicado por Marvel Comics em mini-série de 7 edições em 2006).

Aviso: Prepare-se que será longo...

Eu li a série originalmente quando foi publicada em 2006, e, não gostei.
A série saiu dois anos depois da brilhante Crise de Identidade da DC que mudou bastante minha visão sobre a leitura de quadrinhos de super-heróis, e, eu tenho certeza que era a intenção que a Marvel tinha quando contratou Mark Millar para produzir essa mini-série (nas mesmas sete edições que a história da outra editora e com a mesma promessa de abalar as fundações do universo).

Não me lembro exatamente porque não gostei, só sei que não gostei, e, foi um fato importante para me afastar dos quadrinhos da editora nos anos seguintes. Relendo hoje, quase dez anos depois, vejo que a história me incomoda mais que na época.

Primeiro que este encadernado que coleta a série principal (as sete edições de Civil War) é incompleto, ainda que inerentemente a culpa disso seja da condição editorial que definiu a forma e estrutura da publicação do evento, mas não somente por isso.
O fato mais preocupante que torna a história incompleta é que o final efetivo do evento não se dá na edição 7, e sim na edição 25 de Capitão América (com a morte do personagem titular), mas outros momentos pivotais acontecem nas entrelinhas em histórias paralelas, como a decisão do Homem Aranha de revelar sua identidade publicamente (na série do Homem Aranha) ou o comportamento bizarro do Demolidor durante o evento (também explicado na série mensal do Homem sem Medo, que estava preso na época e substituído por outro herói).

A história começa quando uma ação de um grupo de jovens heróis dá errado e um vilão ocasiona a morte de dezenas de alunos de uma escola em Stamford (cidade pequena de maioria branca e uma das menores taxas de criminalidade dos EUA), mas como Emma Frost dos X-men destaca alguns capítulos depois, a quantidade de mortos em Genosha foi muito maior, sem causar qualquer comoção (pelo contrário, os apoios públicos a causas mutantes eram e continuavam nulos nos quadrinhos da editora - ainda que neles mesmo existissem fervorosos grupos apoiadores da repressão e perseguição aos mutantes).
Ainda que pareça despontar para um lado mais complexo sobre a sociedade norte-americana (e se a escola fosse no Harlem, por exemplo, haveria comoção?) não há espaço para esses pormenores.
Ao contrário, Millar acha que é necessário criar uma cena em que Namor flerta com Sue Storm (porque a gente nunca viu isso antes), além de alguém abandonando o Quarteto Fantástico (de novo, nunca visto) ou vários agentes duplos, triplos e sei-lá-eu-mais-o-que de tantas traições que acontecem no decorrer da história...

Millar gasta tempo demais criando uma estrutura maniqueísta com lados 'bons' e 'maus' que faltam argumentos para uma evidente ruptura. O Homem de Ferro e seu lado pró-registro é retratado de maneira tão opressora, fascista e odiosa que é difícil justificar sua posição (droga, ele passa dias planejando armadilhas e prisões interplanetárias mas não pensa em discutir com o Capitão América antes de dar vazão a todo o maldito confronto!).
Maria Hill, então, é simplesmente intragável.

Cada palavra que sai da boca da suplente de Nick Fury é algum disparate para tentar justificar o quanto a personagem é de fato uma substituta a altura da posição em que está - e não apenas uma pessoa francamente incompetente em uma alta posição de poder, como de fato é, e, demonstra em cada oportunidade que tem de tomar uma decisão. Isso é bastante comum, infelizmente, quando se faz necessário substituir um personagem, principalmente nos quadrinhos (aconteceu com o Lanterna Verde Hal Jordan substituído por Kyle Rayner e mesmo com o boa praça Jim Gordon substituído pelo linha grossa Michael Atkins).
Mas ela é feita propositalmente desagradável para que sua queda seja melhor desfrutada (afinal, com o capítulo final da história Tony Stark se torna o diretor da SHIELD e coloca Hill para buscar cafézinhos), só que dizer que Stark, mesmo nesse final, pode minimamente ser visto como um meio termo, é bem difícil com todas as atrocidades cometidas nos capítulos anteriores.

A estrutura editorial montada para produzir esse arco não contribuir para que a história seja fluída ao que fica extremamente convoluta enquanto milhões de coisas acontecem ao mesmo tempo, e, isso também se acentua na leitura (o capítulo 7 é mera violência incontida e sem propósito), e, isso p que pra mim destaca o maior defeito da história.
Reza a lenda que Mark Millar não tinha planos para que esse material saísse pela Marvel, mas sim como parte de seu universo particular de trabalhos autorais (conhecido como Millarworld, de onde sairam Wanted e Chosen, por exemplo), e faz bastante sentido no quanto a história não se encaixa.

Com sua quantidade limitada de páginas para a história principal, parece faltar espaço para o conteúdo que realmente importa ou deveria receber atenção. Lendo em 2006 e agora em 2015 continuo sem entender qual o efetivo ponto do registro (tornar os heróis servidores públicos do governo dos EUA? Desculpe se eu não vejo isso com bons olhos na escala geopolítica global...), e, principalmente, a lógica toda do evento parece carecer de maior desenvolvimento.

Os problemas do registro, inclusive, vão além pois no contexto histórico da Marvel, eles fazem muito pouco sentido... Primeiro porque, questão de meros meses atrás no título dos Vingadores, na edição 57 de 2002 do arco World Trust (Confiança Global em tradução literal), o conselho de segurança da ONU se reúne e concede aos Vingadores a gestão dos governos do planeta!
Sim, esse é um mundo em que os Vingadores tem sanção para governar nações dadas circunstâncias extraordinárias mas não podem operar a menos que parte de um tipo de registro maluco e nunca devidamente explicado!
Registro esse, que, JÁ EXISTIA no universo Marvel, uma vez que desde a década de 70-80 os Vingadores lidam com agentes governamentais (como Henry Peter Gyrich a partir da edição 165 de 1977, e após os Vingadores de Kurt Busiek com Duane Freeman abrandando as relações entre governo e a comunidade super heroica), e desde essa época todas as atividades, poderes, identidades secretas e o que mais estão em bancos de dados protegidos por acordos e conveniências diversas.
POR OUTRO LADO, tal registro é exatamente o que os X-men combatem desde, bem, sempre (inclusive com todos os problemas com as Sentinelas) e aqui, isso é o que me irrita mais! Os X-men não só estão NEUTROS na coisa toda, como aceitam pacientemente ter sua escola monitorada 24 horas por Sentinelas governamentais!
(Sem contar todos os ataques de super vilões e as destruições em massa perpetradas por todos os lados que incluem monstros gigantes destruindo Manhattan a Magneto utilizando seus poderes para prender e assassinar milhares em uma ponte suspensa - como a Golden Gate).
Ou seja: Para a história fazer sentido é preciso ignorar toda a história da própria Marvel!

Até porque, se o leitor considerar uma perspectiva diferente - exatamente ignorando toda a cronologia prévia - também não faz exatamente muito sentido, considerando a quantidade abissal de personagens de cada lado e mais que isso a quantidade assombrosa de viradas de casaca que a história se permite...
Se a intenção é focar nos leitores novos (e/ou mais novos, o pessoal que vinha lendo o universo Ultimate surgido em 2000 com uma roupagem mais contemporânea para os personagens da editora), fica difícil de conseguir estabelecer isso quando cada página jorra com personagens obscuros e pouco lembrados do passado da editora (como se o herói 'Arraia' fosse muito famoso, mas o que dizer do vilão Polichinelo?)
E o fato que o Homem Aranha (em seus vinte e tantos/muitos após concluir a faculdade e o doutorado pela Empire State) revela sua identidade pública dizendo que faz isso desde que tinha 15 anos não ajuda também - o tempo sozinho que ele vem executando essas atividades torna o argumento bastante falho. PRINCIPALMENTE pelas frequentes mudanças no comportamento do personagem (ora apoiando o registro com toda a força de seu ser, ora questionando intensamente...)

No frigir dos ovos, falta substância que engrosse o caldo e transforme esse material que é o enredo de um jogo de luta à Street Fighter ou similar em uma história, algo que aconteceria se, somente o material 'extra' das séries mensais fosse parte do evento principal e menos das tramas e enredos dispensáveis ganhasse luz.

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